José Tolentino Mendonça, Autor Paulinas, distinguido pela poesia de “A noite abre meus olhos”
«Perguntas quanto tempo deves rezar?/ a papoila na encosta/ é vermelha sempre»: este é um dos poemas do livro “A noite abre meus olhos”, que valeu a José Tolentino Mendonça, Autor Paulinas https://goo.gl/MyZFga, o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, promovido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) com o patrocínio da Câmara Municipal de Amarante.
Editado em 2014 pela Assírio & Alvim, o volume que contém a poesia reunida do padre, ensaísta e biblista foi elogiado pela sua «coerência interna», a par da «construção de linguagem fortemente visual que se sente respirar rente ao coração do mundo».
O júri, composto por Isabel Cristina Mateus, José Carlos Seabra Pereira e José Manuel Mendes, realçou também «o mérito de uma poética discreta da espiritualidade atenta ao rosto e ao olhar do outro, resgatando-o do esquecimento e do desamparo».
Em “A noite abre meus olhos”, prossegue o júri, manifestam-se «as projeções de uma estética que, na aparente simplicidade, exprime o deslumbramento e os sobressaltos de uma evidência da liberdade do corpo, lugar de revelação da realidade sacra do quotidiano, em particular nas relações interpessoais».
A este prémio, no valor de 12 500 euros, junta-se a distinção obtida em maio, na primeira edição do Grande Prémio de Literatura da APE e da Câmara Municipal de Loulé para Crónica e Dispersos Literários, com o volume “Que coisa são as nuvens” (2015), que reúne textos originalmente publicados no semanário “Expresso”.
De “A noite abre meus olhos”, o poema “A fala do rosto”:
«És Tu quem nos espera
Nas esquinas da cidade
E ergue lampiões de aviso
mal o dia se veste
de sombra
Teu é o nome que dizemos
se o vento nos fere de temor
e o nosso olhar oscila
pela solidão dos abismos
Por Ti é que lançamos as sementes
e esperamos o fruto das searas
que se estendem
nas colinas
Por Ti a nossa face se descobre
em alegria
e os nossos olhos parecem feitos
de risos
É verdade que recolhes nossos dias
quando é outono
mas a Tua palavra
é o fio de prata
que guia as folhas
por entre o vento»