Nos escombros de uma história real, há uma pergunta lancinante: depois de ter sido sexualmente abusado por um clérigo, como pode ter decidido ser padre? Passados quase quarenta anos de silêncio e negação, Patrick Goujon decidiu regressar ao pesadelo da infância e acabar com a maior e mais dolorosa negação.
«Reencontrei a palavra, apesar de ignorar ter sido privado dela. Um dia, confrontei-me comigo próprio e decidi falar. Não tinha imaginado como isso seria tão benéfico! Teria bastado acreditar que a vergonha era apenas um fantasma, que não era nada comparado à paz de me libertar dos entraves. Não me tinha apercebido que me tinha calado… Ao aliviar a minha dor, outros permitiram que a palavra se formasse. Ela conseguiu escapar de onde estava presa. Através de massagens, exercícios e pressões libertadoras, fizeram das mãos uma alavanca. O que sofria nas minhas costas subiu para os meus lábios. A minha palavra extirpou-se dos meus músculos doloridos. Ela ganhou corpo em mim e fez-me escolher a liberdade.»
